Centenas de ovelhas começaram a descer da Serra da Estrela, enchendo por completo as ruas das aldeias do concelho de Seia e marcando o encerramento do ciclo anual da transumância — uma tradição milenar que continua a dar vida à montanha e às comunidades pastoris da região.
Depois de um verão passado nas pastagens de altitude, onde o clima é mais ameno e a erva mais fresca, os pastores conduzem agora os rebanhos de regresso aos vales, onde permanecerão durante o inverno. Este movimento sazonal simboliza a adaptação do homem e dos animais ao ritmo natural das estações, num equilíbrio entre a natureza e o trabalho humano que tem sido preservado ao longo de gerações.
Mais do que uma simples deslocação de animais, a transumância é um rito ancestral e um património vivo que reflete a ligação profunda entre o ser humano, o rebanho e a serra. Durante a descida, as aldeias transformam-se em verdadeiros palcos desta tradição: as ruas enchem-se de lã e som de chocalhos, e os habitantes saem à porta para assistir à passagem dos rebanhos, revivendo uma imagem que faz parte da identidade coletiva da Serra da Estrela.
O processo de transumância tem uma lógica natural e funcional. Na primavera, os rebanhos sobem às zonas mais altas, onde encontram temperaturas mais frescas e pastagens verdes; no outono, regressam aos territórios mais baixos, onde o clima é mais suave e há melhores condições para enfrentar o inverno. Este ciclo garante o aproveitamento sustentável dos recursos e contribui para a conservação das paisagens de montanha.
Mais do que um gesto económico, trata-se de uma expressão cultural e ecológica que reforça a ligação entre as pessoas e o território. A transumância é, ainda hoje, um símbolo de resistência e de continuidade das tradições serranas, sendo reconhecida como parte integrante do património imaterial português.

O espetáculo da descida dos rebanhos, que todos os anos atrai curiosos, fotógrafos e amantes da natureza, é uma celebração da vida rural e do modo de ser das gentes da Serra da Estrela — um testemunho vivo de que a tradição e a modernidade podem caminhar lado a lado.
JSM