Recorda-se do grande apagão de abril, que deixou grande parte de Portugal e Espanha quase 12 horas sem eletricidade. Na altura, as temperaturas amenas permitiram alguma adaptação: foram usadas janelas abertas, luz natural, velas e conversas à varanda para amenizar o momento. No entanto, se um corte generalizado de energia ocorrer durante o inverno — quando as temperaturas rondam os 4 °C — as consequências poderão ser bem mais graves.
Casas sem aquecimento, frigoríficos desligados, falta de água quente e o simples desafio de manter as pessoas aquecidas no escuro são cenários reais que já preocupam especialistas. Se um apagão se prolongar por 10 a 12 horas, os riscos aumentam significativamente, sobretudo para grupos vulneráveis como idosos que vivem sozinhos, bebés e pessoas que dependem de equipamentos elétricos para sobreviver. “Um apagão no inverno pode custar vidas”, alertam especialistas da área energética.
O estilo de vida moderno depende quase inteiramente da eletricidade. Desde aquecimento, transportes e comunicações até ao funcionamento de hospitais, um corte generalizado de energia pode paralisar cidades inteiras. No frio, a situação agrava-se: baterias descarregam mais rapidamente, alimentos podem deteriorar-se após ciclos de congelação/descongelação e o corpo humano perde calor com maior facilidade.
Na Península Ibérica, a Red Eléctrica — operadora responsável pela rede de transporte de eletricidade em Espanha — já emitiu alertas sobre o risco de novos apagões, atribuídos a fatores como o aumento do consumo, a menor produção de energia renovável, instabilidade nas redes e dificuldades nas interligações europeias.
Portugal, por sua vez, permanece vulnerável: muitas habitações não dispõem de isolamento adequado ou de sistemas de aquecimento central, o que pode transformar casas comuns em “frigoríficos” nos dias frios. Se no passado o apagão foi encarado por muitos como curiosidade ou episódio a recordar, a aproximação do inverno eleva o risco a patamares mais dramáticos. Em caso de repetição do cenário, o impacto poderá ser devastador. Portugal precisa estar preparado — e cada cidadão também. Quando as luzes se apagarem, talvez não seja apenas um contratempo, mas o início de um prolongado e gelado silêncio.
NDC