Maria Adelaide de São José e Sousa, nascida no Porto em 1835, tornou-se uma figura central da devoção popular em Arcozelo, Vila Nova de Gaia.
Embora nunca tenha sido oficialmente canonizada pela Igreja Católica, o seu corpo incorrupto — descoberto 30 anos após a sua morte — continua a atrair milhares de fiéis à capela que hoje ostenta o seu nome.Ainda jovem, Maria Adelaide ingressou num convento em Gaia, mas a saúde frágil levou-a a abandonar a vida religiosa. Em 1876, já debilitada pela tuberculose, mudou-se para Arcozelo, procurando um clima mais ameno. Acompanhada por amigos e por um médico, dedicou-se à costura e à culinária, doando os lucros a quem mais precisava. Instruía crianças no catecismo e levava uma vida marcada pela caridade e pela devoção, traços que cimentaram a sua reputação na comunidade local. Após a sua morte, em setembro de 1885, foi sepultada no cemitério de Arcozelo. Em 1916, quando os seus restos mortais foram exumados devido à venda do terreno, foi constatado que o corpo permanecia intacto, com roupas bem preservadas e exalando um intenso perfume a rosas — um fenómeno que muitos interpretaram como sinal de santidade. A tentativa de novo sepultamento gerou uma onda de comoção: a população invadiu o cemitério e exigiu a permanência do corpo no local. Desde então, os restos mortais passaram a ser venerados publicamente, marcando o início de um culto que nunca mais cessou.Apesar de alguns episódios de vandalismo — como o assalto ao relicário em 1981 e uma tentativa de destruição em 1983 —, a devoção popular manteve-se firme. O relicário foi restaurado e hoje é o centro da Capela de Santa Maria Adelaide, construída entre 1929 e 1931. O local recebe diariamente centenas de visitantes, entre devotos e curiosos. Ao lado da capela, um museu preserva mais de 6 000 objetos ofertados pelos fiéis: vestidos de noiva, joias, cartas, fotografias, moedas de mais de 25 países, próteses e até mechas de cabelo. São testemunhos da fé inabalável depositada naquela que muitos continuam a chamar “a santa do povo”. Apesar do culto popular consolidado, a Igreja Católica recusou dar seguimento ao processo de canonização. No entanto, para milhares de devotos, Maria Adelaide é já uma santa — não por decreto oficial, mas pela força da fé que inspirou e continua a inspirar.
NC
Imagem: Jornal Ciência
